terça-feira, 9 de agosto de 2011

O inverno do nosso desalento


Lya Luft

    Não há como não ver, escutar, comentar: a ponta do iceberg, a ponta do novela da realidade que finalmente começa a se desvendar, a imprensa divulga, os brasileiros comuns, como eu, encaram assustados – pois ela comanda nosso presente e futuro, o bolso, a esperança. Nos bastidores da vida pública, um fervilhante mercado persa de cargos, dinheiros e favores do qual não temos ideia.
      Pois nesse teatro ou circo todos correm a ser proteger, a preservar as últimas ilusões da plateia, e a defender seus feudos não muito limpos. Havia muito eu andava perplexa: agora, começo a sentir aquele profundo desalento do qual falou um político horando, antes de se recolher à vida particular, para pouco depois subitamente morrer. O coração não aguentou, imagino. Deve ser grande, dolorosa, a solidão dos honestos no meio público. Os honrados existem, mas hão de nadar penosamente contra uma correnteza poluída – objeto de preconceito do seus pares, olhados como ameaça: o que eles pensam? Achando-se melhores que nós? E se foram nos dedurar?
      E nós, do lado de fora, que pagamos a conta, que armamos o circo, carregamos a lona e as gambiarras, enfrentamos as feras, levamos nas costas até o elefante: e nós? Quem nos perguntou, quem nos pediu licença para organizar esse melancólico espetáculo, que transcorre em meio-silêncio e meia-luz? Que circo, que teatro é esse, causando desorientação nossa, falta de idealismo nos jovens, e que devia ser escondido das crianças como pornografia?
    Aqui onde vivo faz frio neste inverno. Geada cobre gramados e campos, queima as colheitas, diverte os turistas, nos faz recear a rua onde de manhã frequentemente temos sensação térmica negativa. Neste dias, parece que esse sentimento gélido é reforçado pelo clima dentro de nós, que contemplamos e ouvimos os atores desse espetáculo que nós sustentamos, sem entender direito – por alienados e fúteis -, no circo dos nossos pesadelos, no teatro de nossas desilusões. Quem lhes dá força, quem os protege? Algum será devidamente punido – ou vai fingidamente se recolher para reaparecer em outro cargo igualmente poderoso, igualmente facilitador de ganhos escusos? Enquanto nós, crédulos ou omissos, acreditamos em ganhar a vida e sustentar a família com o suor do nosso rosto, o desgaste do nosso corpo, a perda da nossa vida, o esforço da nossa inteligência.
       Sim, nestes dias eu sinto, mais que o frio do clima, o gelo do desalento. De não acreditar que vá ocorrer uma grande faxina, uma real limpeza, alguma solução ou verdadeira melhora, um grande avanço em direção à honestidade. Pois “transparência” se tornou uma palavra banalizada e vazia, sem valor, quando tudo é obscurecido para favorecer as ações na sombra. Talvez, para ser algo real, essencial e radical, fosse preciso mudar tudo. Quase tudo. A cena, os atores, as falas, até a plateia. As coxias, os bastidores, teriam de ser varridos e abertos ao público. O público teria de prestar atenção, reagir, aplaudir ou renegar. Nunca relevar. Demitir muita gente do quadro de seu respeito e confiança. E tamanha mudança causa medo e insegurança.
     Uma grande transformação seria possível com informação, para começar, que vem de uma educação eficiente, e leva tempo. Assim se fazem mudanças com ordem, calma, Inteligência, vontade. Mas eu, neste frio que me assola, receio que o espetáculo apenas continue: trocados atores e nomes ou máscaras, o tom e algumas falas, recolocadas as luzes, o indevido oculto atrás de papelão pintado, e toca em frente, o teatro, o circo. E nós, omissa ou submissa plateia, continuaremos aplaudindo mesmo sem entender direito, ofuscados pela luz que vem do alto, ainda levando em nossas doloridas costas os paus, as lonas, até o elefante.
      A solução poderia ser um desalento criativo, produtivo, ativo, que agisse para limpar o que está sujo e nos humilha, expor o que é duvidoso e nos envergonha, mudando, sabe Deus como, o que nos rouba a dignidade enquanto explora a indecisão de quem não quer ver, para não ter de crer.

Fonte: Revista Veja, 20 de Julho, 2011.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Nova data da entrevista de Jomázio Avelar na TV

Amigos,

Em virtude de alterações na programação da emissora, a minha entrevista no programa Negócios, Dívidas e Cidadania, que deveria ter ido ao ar ontem, será apresentada agora em duas novas datas. Confiram:

- Amanhã, dia 05/08, às 23h30
- Sábado, dia 06/08, às 12h

Canais:
Net canal 9
TVA canal 72 e 99
TVA digital 186

Obrigado pela compreensão!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Jomázio Avelar fala hoje na TV sobre o momento atual da engenharia.

Vai ao ar hoje à noite a entrevista com o engenheiro Jomázio Avelar, idealizador do movimento Recriar o CREA SP.

O engenheiro falou sobre a importância do movimento Recriar o CREA SP, o atual momento da engenharia brasileira, sua experiência acadêmica e profissional, entre outros assuntos de interesse geral.

A entrevista foi concedida ao programa Negócios, Dividas e Cidadania, apresentado por Orlando Marinho, gestor de novos negócios da Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédito.

Hoje, 03 de agosto, às 21h30
Net canal 9
TVA canal 72
186 digital

Vale a pena conferir!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Encontro de Família

Colegas de profissão,

Tenho me dedicado com afinco ao trabalho de elaboração programática e de divulgação do conteúdo e ações do “Movimento Recriar o CREA-SP”.  Tem sido prazeroso e realizador; inúmeras palestras e debates com nossos colegas de profissão.
Agora, no próximo final de semana, permito-me pequeno desvio de rota para atender um chamado familiar.

Minha família teve sua origem em 1900 na pessoa de meu avô; somos hoje 476 descendentes que se reúnem sagradamente no último final de semana de julho, todos os anos.

Honra-me ter sido o idealizador das reuniões que já avançam três décadas após o falecimento do patriarca. Mas não basta ter a idéia, é preciso implementá-la e mantê-la, dar a ela sentido para cada um e alimento familiar e humano para todos.  Sempre agradeço a Deus por ter concedido a inspiração e pela obra que neste final de semana é celebrada por toda a família: a UNIÃO em torno do que ele, nosso avô, significou e ainda significa até hoje para todos nós.

O fato de ter sido criado nesse ambiente familiar amplo, forjou em mim valores que me levaram ao cooperativismo numa visão sólida de trabalho pelo bem-comum e compreensão de que só há sucesso se todos forem bem sucedidos; de vencer porque todos são vencedores; no eventual insucesso todos sofremos menos; na dor estamos unidos para superá-la; as grandes causas são para todos e as vitórias também de todos.

Sou assim. Vim para realizar. Realizar é meu Ativo. Passivo é sempre pequeno face ao Ativo. Sempre apuro resultados que não são meus; Deus já os havia destinado previamente por Sua sublime e superior sabedoria face à infinita fraqueza e estreiteza de visão dos homens, ignorando que a verdade é a condição fundamental da virtude.

Bom final de semana!

Jomázio, eng

segunda-feira, 25 de julho de 2011

OAB repudia advogado da ‘ética de bandido'

Jefferson Badan defende criminoso que participou de latrocínio na USP e, em entrevista anteontem, disse que quem é do crime não entrega parceiro

William Cardoso

A declaração do advogado Jefferson Badan associando o crime a uma profissão e dizendo que todo bandido tem ética foi repudiada pela seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP). A afirmação de Badan foi feita anteontem, em defesa de Irlan Graciano Santiago,de 22 anos, que participou em18 de maio do assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva, de 24, no câmpus da Universidade de São Paulo (USP), no Butantã, zona oeste da capital.

Durante entrevista coletiva, o advogado foi questionado sobre o motivo pelo qual o cliente não contaria quem foi o comparsa na ação que matou o estudante. “Quem é do crime nunca entrega parceiro. Todo bandido tem ética. Você é um cara experiente na área criminal e sei que está fazendo essa pergunta simplesmente por fazer, porque você sabe que todas as profissões têm ética. E, na sua profissão, se tiver um repórter na sua frente, a ética dele é dar espaço para você também trabalhar”, afirmou Badan.

O presidente da OAB-SP, Luiz Flávio D’Urso, diz que a entidade repudia a afirmação do advogado, mas explica que não houve uma infração ao Código de Ética da própria categoria. “O advogado, na hora em que está realizando a defesa, tem imunidade em relação às suas declarações. Elas não trazem a ele consequência direta. Agora, o repúdio cabe à Ordem fazer, porque foi algo que ultrapassou os limites de defesa do cliente e alcançou toda a nossa classe. Cria uma imagem negativa da advocacia para a população, algo irreal.”

D’Urso afirma que na segunda feira haverá uma reunião da diretoria da OAB para definir se será o caso de tomar alguma outra providência em relação a Badan.

Confusão. Segundo o presidente da OAB-SP, Badan confundiu conceitos ao falar sobre ética no crime.“É uma manifestação infeliz. A atividade criminosa não é profissão, é crime. É inadmissível estabelecer qualquer relação”, afirma. D’Urso diz que Badan pode se retratar publicamente para superar o fato.

Mestre em Filosofia do Direito e professora de Ética da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Celeste Melão afirma que Badan não infringiu o estatuto da OAB, mas que deveria ser mais zeloso com as suas declarações. “A ética está acima da conduta, é a possibilidade de construir comportamentos que estruturem o bom, o belo e o justo. Não se pode falar disso em um ambiente de ilícitos. É, quando muito, um acordo para a sobrevivência.”

Para o desembargador Antonio Carlos Malheiros, o advogado falhou. “Foi uma declaração equivocada.Não é ética coisa nenhuma. O que foi chamado de ética por ele é um código de conduta que rege a lei do silêncio.”

O Estado tentou contato com Badan ontem, mas ele não respondeu até as 23 horas. Mesmo assumindo a participação no assassinato do estudante, o cliente de Badan foi liberado por ter se apresentado, não ter antecedentes criminais e possuir endereço fixo. Responderá em liberdade.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 11 de Junho de 2011, C9.



Comentário:

A OAB/SP se pronuncia e age. Em situação semelhante o CREA-SP se omite. 

terça-feira, 19 de julho de 2011

Para Temer, País assiste ‘incólume’ à crise europeia

No Rio, vice diz que situação econômica de países ricos é preocupante,mas Brasil pode comemorar; em São Paulo, Lula cobra medidas de Obama

Alfredo Junqueira / RIO
Fernando Gallo / SÃO PAULO

    O vice-presidente da República, Michel Temer, disse ontem no Rio que, enquanto os Estados Unidos e países europeus enfrentam sérios desafios na economia, nessa área “o Brasil ainda pode comemorar”. “Temos notícias do que acontece hoje na Europa e até, de maneira preocupante, nos Estados Unidos. Mas nós aqui estamos incólumes”, comparou Temer,ao chegar à Associação Comercial do Rio de Janeiro, que comemorava seus 202 anos de vida.
    “Fala-se tanto da inflação e nós sabemos que isso gera expectativa. O governo está sabendo controlar essa expectativa”, prosseguiu Temer, acrescentando que a inflação “está absolutamente sob controle, o País vai bem econômica e institucionalmente.”
    Temer destacou ainda o plano de combate à miséria e as ações de segurança na fronteira como os principais avanços dos seis primeiros meses do governo Dilma. Na solenidade, ele recebeu as medalhas Pedro Ernesto e Tiradentes, da Câmara Municipal e da Assembleia do Rio.
    A comparação entre a economia brasileira e o Primeiro Mundo foi abordada também, em São Paulo, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele chegou a criticar diretamente, pela situação, o presidente americano Barack Obama.
    Convidado ilustre de um congresso da União Geral dos Trabalhadores (UGT), no Anhembi, Lula disparou críticas contra EUA e Europa: “Nós estamos vendo Espanha, Portugal e Grécia numa situação delicada. Tudo isso por conta de uma crise que não foi causada pelos pobres”, comentou o ex-presidente. “E a gente não pode aceitar que os americanos façam ajuste na sua política fiscal às custas da desvalorização do dólar, que cria um prejuízo ao comércio dos países mais pobres do mundo”.

    Marolinha. “Enquanto o Obama já está há mais de dois anos sem resolver a crise americana, enquanto a Europa já está há mais de dois anos sem resolver a crise na Europa (sic), aqui no Brasil nós avisamos que a crise ia ser uma marolinha, que ia chegar por último e ia embora primeiro e foi exatamente o que aconteceu”,disse Lula à plateia de sindicalistas.
   Depois de comparar a rapidez com que o governo brasileiro debelou os efeitos da crise com as dificuldades até hoje enfrentadas pelos países ricos, o ex-presidente concluiu: “Aqui demoramos sete dias para resolver o problema do financiamento de carro. O Obama demorou sete meses nos Estados Unidos.”
   Segundo o ex-presidente, a nova política industrial que a presidente Dilma Rousseff vai lançar em breve tem como objetivo minimizar os efeitos do real valorizado e tornar as empresas brasileiras capazes de competir com as chinesas. “Tem muita gente que se queixa de que tem muito produto chinês entrando noBrasil. É preciso que a gente tome as medidas que tiver que tomar.”

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 16 de Julho de 2011, A6.

Comentário:

    A afirmação dos políticos no texto acima pode levar à interpretação de tratar-se de comportamento “me engana que eu gosto”. A situação do Brasil não é tão boa quanto apregoam: o Governo Federal pagou R$ 220 bilhões em juros da dívida pública interna em 2010. Enquanto isso não tem recursos para investir na infraestrutura material, o que afeta diretamente a competitividade dos produtos e a produtividade da economia brasileiras. Sendo os engenheiros os maiores prejudicados, dado tratar-se de seu mercado de trabalho, surpreende que as instituições que compõem o setor da Engenharia mantenham-se inertes e contemplativas. A união de todas as instituições CREA-SP, entidades da Engenharia e sindicatos patronais principalmente é inadiável para atuar visando o interesse nacional no Brasil.
   O “custo-Brasil” continua o mesmo, os impostos (carga tributária de 40%), o câmbio, a abundância de crédito, os oligopólios, a concentração empresarial com redução da concorrência e o otimismo dos consumidores que estão produzindo o País mais caro, cada vez mais, mostram que o Brasil não está tão bem administrado como possa parecer.
    Cidadãos, dentre eles os engenheiros, estejam atentos, a conta sempre vem para o contribuinte pagar.
Não se trata de fazer oposição ao Governo, que não é o propósito, mas de atuar no interesse do Brasil, fazendo a parte que cabe aos engenheiros. Afinal, a opção foi uma República Democrática.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Um profissional sempre será o Artífice


Jomázio Avelar

   “Derrotar um inimigo que ameaça nossa visão de mundo, os próprios valores que acreditamos serem capazes de nos proteger, é a maneira mais rápida de acalmar a ansiedade existencial”, citação do psicólogo social Tom Pyszcynski da Universidade do Colorado/EUA.
   Parece uma orientação sábia e aplicável a situações de escolhas. As atividades humanas impõem mudanças permanentes tais que a certeza é a incerteza. Decisões que afetam destino de pessoas seja no estabelecimento de missões de instituições, seja nos processos procedimentais, ou mesmo na avaliação de resultados, aplicáveis a bens ou serviços, ou a conhecimentos, implicam estar ancoradas em valores e visão de mundo de cada um dos competidores envolvidos nas escolhas.
   Na época atual as realizações precisam estar fundamentadas em projetos auto-sustentáveis; não há espaço para a improvisação, sob pena de comprometer a eficácia do objetivo e a eficiência dos procedimentos.
   Nenhum projeto se revela sustentável sem base em pesquisa qualificada que é, na essência, a transformação de dinheiro em conhecimento, e na sequência, a inovação que transforma conhecimento em dinheiro, bem citado pelo ex-vice presidente da 3M, Geoft Nicholson.
   Inúmeros problemas podem ser elencados como pendentes de solução. Por exemplo, o tempo de produção de empreendimentos imobiliários na cidade de São Paulo chama a atenção e situa-se no âmbito das atividades da Arquitetura e Engenharia a requerer nossa atuação e empenho.
   Estudo recente trazido à luz por divulgação da imprensa nos mostra que desde a decisão pela compra do terreno para empreender a implantação de um edifício habitacional até a entrega das chaves, decorrem 83 meses, ou 6 anos e 11 meses. Cumpre ressaltar que o prazo necessário para Engenharia e Arquitetura, que inclui elaboração dos projetos e conclusão da construção, é de 2,5 anos. O restante do prazo é consumido pelos procedimentos burocráticos.
  É efetivamente inaceitável diante de tanta velocidade dos instrumentos de processamento de informações e rotinas, denominados de informatização e automação, causando elevação de custo para compradores dos bens e afetando resultados operacionais das empresas, ambos fundamentais no interesse do País.
  É um problema que a Arquitetura e a Engenharia tem de resolver pela transformação dos procedimentos e é inadiável visto o prejuízo que causa.
   Problemas semelhantes na área da Engenharia Industrial e da Agronomia, bem como na dos Serviços e Comércio, existem e são de nossa responsabilidade dada nossa visão de mundo; dar soluções inteligentes e duradouras amparadas nos valores de nossas crenças.
   Os arquitetos e engenheiros, incluindo os agrônomos, em resposta à formação superior que receberam, muitos nas instituições públicas, forçosamente adquiriram visão que os responsabiliza com conduta de cidadão do mundo, quando não de cidadania profissional.
   Nessa conduta ele se dá o dever de servir a sociedade no mister de seu saber para geração de produtos de sua especialidade profissional. Por mais desenvolvidas e poderosas que sejam as corporações empresariais ou instituições públicas sempre a atividade do profissional representa o papel do Artífice, da perícia no fazer com responsabilidade de cidadão profissional. 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A arma do sucesso chinês: boa educação


* JOSÉ PASTORE

    Na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (26/4/2011), a presidente Dilma Rousseff anunciou a criação de 75 mil bolsas de estudo no exterior até 2014, o que dá uma média de 18,7 mil por ano. Trata-se de excelente notícia, especialmente se essas bolsas se concentrarem nas áreas de ciências exatas, que são estratégicas para o desenvolvimento do Brasil.
    Essa ideia já havia sido ventilada por Dilma durante a campanha. Mas o anúncio definitivo veio depois de sua viagem à China.
    Os chineses já definiram sua arma para dominar o mundo: a educação. O país realiza uma colossal revolução na preparação de talentos para ciência e tecnologia. A China quer eliminar a diferença existente em relação aos Estados Unidos, ao Japão e à Alemanha e se apronta para ser o líder em pesquisa e desenvolvimentoe, consequentemente, na produção industrial até 2050. É isso que se lê no seu arrojado Plano Educacional para 2010-2050.
    Lembremos que a China cometeu um erro gravíssimo ao fechar as universidades durante a Revolução Cultural (1966-1976), mas o erro está sendo corrigido. Já no final da década de 1970, Deng Xiaoping promoveu avanços tremendos em todos os níveis da educação, em especial no universitário. De 600 faculdades existentes em 1978 o país passou para 2 mil em 2008 – e não para de aumentar. No ano de 2000, 40 mil jovens chineses foram estudar nas melhores universidades do mundo. Esse foi só o começo. Em 2008 eram 420 mil (110 mil só nos Estados Unidos), a maioria em cursos de pós-graduação (Amelie F. Constant e colaboradores, China’s Latent Human Capital Investment, Institute for the Study of Labor, abril de 2011).
    O Brasil também aumentou a exposição de seus jovens ao ensino no exterior. Mas as diferenças são colossais. Por exemplo,enquanto a China manteve, em 2009, 120 mil jovens nos Estados Unidos (a maioria empós-graduação), o Brasil tinha apenas 7,5 mil: 450 em cursos de curta duração (em geral de inglês), 3,7mil em cursos degraduação e apenas 3,3 mil em pós-graduação.
    A caminhada a ser vencida é enorme. Mas temos de reconhecer que os planos de Dilma são avançados. Ela pretende mais do que dobrar o número de bolsistas brasileiros nas ciências exatas. Certíssimo!
    Outro capítulo das reformas de Dilma é o Programa de Ensino Técnico (Pronatec), que busca criar cerca de 8 milhões de vagas nas escolas técnicas até 2014 –2 milhões por ano. Mais uma vez, certíssimo!
    É claro que esses são apenas números, enquanto, neste campo, o que mais conta é a qualidade do ensino. No plano educacional da China está sendo dada uma especial atenção a esse aspecto. O país tem 300 milhões de estudantes e 14 milhões de professores – todos eles cobertos por um programa de atualização de conteúdo e aperfeiçoamento didático. Uma enorme atenção está sendo dada à pré-escola para fazer os alunos aprenderem mais devagar, mas com maior profundidade.
    No campo administrativo, a China está descentralizando a gestão das escolas, passando a maior responsabilidade aos governos locais e sob o controle das comunidades. A propósito, a China conseguiu envolver todo o povo na discussão do referido plano, deixando claro que a melhoria de vida nas gerações atual e futura dependerá fundamentalmente não apenas de educação, mas de uma boa educação. Cerca de 75% dos chineses conhecem e apóiam o plano.
     Essa é uma outra diferença em relação ao Brasil. Entre nós, a maioria dos país fica satisfeita quando seus filhos conseguem um lugar nos bancos escolares, pouco se importando com o que e como as escolas ensinam seus filhos.
    Oxalá os planos de Dilma sejam concretizados e acompanhados com uma boa atenção à questão da qualidade do ensino.

* Professor da FEA-USP, é presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FECOMÉRCIO de São Paulo. Site: www.josepastore.com.br

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 10 de Maio de 2011, B2.

Comentário:
    1. É auspicioso constatar que num país comunista a gestão das escolas está sendo descentralizada atribuindo “a maior responsabilidade aos governos locais e sob o controle das comunidades”. Essa orientação está arquivada no Congresso Nacional brasileiro como proposta protocolizada pelo Conselho Brasil-Nação para a Revisão Constitucional de 1993. É prática nos países em que a educação é universalizada e de boa qualidade.
    1. É louvável a meta do Pronatec do Governo Federal brasileiro, citada acima. Porém, a gestão e responsabilidade deveria ser atribuída aos Governos Estaduais, vista maior eficiência administrativa e resposta a demandas das empresas situadas na região respectiva. Também foi proposta integrante do Projeto Brasil-Nação na Revisão Constitucional de 1993.

    2. O envolvimento da sociedade nas decisões e na implantação de programas é uma arma que os governos brasileiros (de todos os níveis) tem deixado de utilizar. Essa arma é de energia imensa, eficaz e de custo baixo. Basta a decisão de praticar a democracia na gestão, ao invés de limitá-la aos processos eleitorais. A redução de custos e elevação da eficácia são enormes. Os comunistas chineses já viram; os democratas brasileiros ainda não viram.

    3. Dobrar o número de bolsistas brasileiros nas ciências exatas no exterior (3,7 mil na graduação e 3,3 mil na pós atuais) é muito importante, porém o esforço pela melhoria da qualidade do ensino das universidades brasileiras nas ciências exatas, especialmente na Engenharia (40.000) e nível técnico (20.000) é urgente e importantíssimo. Óbvio que é fundamental o nível de investimentos para que a economia absorva os profissionais, evitando que migrem para outras atividades como tem acontecido nas últimas décadas. E nisso as entidades de classe e os sistemas de regulamentação profissional não podem continuar se omitindo quanto à qualidade da formação e a ocupação na profissão. 

terça-feira, 28 de junho de 2011

A ficha caiu


*
ADRIANO PIRES E ABEL HOLTZ

    Finalmente, intensificou-se nas últimas semanas o debate sobre a renovação das concessões do setor elétrico. As opiniões são diversas e consistentes na visão de cada um dos interessados. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) garante que, caso ocorra uma nova licitação, em vez da simples renovação, a tarifa pode cair até 80%. Existem propostas mais ambiciosas, como reproduzir, com adaptações, a bem-sucedida iniciativa do presidente Franklin Delano Roosevelt de concentrar numa só entidade a responsabilidade de desenvolver o uso múltiplo dos recursos hídricos e de tomar medidas mitigadoras para o controle de eventos extremos – tanto as secas quanto as cheias. O exemplo seria a Tennessee Valley Authority (TVA), nos Estados Unidos.
    Entretanto, esta é a oportunidade que poderemos ter para que as tarifas ao consumidor sejam menores do que aquelas atualmente praticadas, em qualquer das alternativas em análise, e que sempre sejam discutidos e modificados os tributos e encargos incidentes sobre a energia elétrica.
    Ressalte-se que em nenhum momento foi ventilado o eventual problema das exigências socioambientais que possam vir a ser discutidas pelas ONGs, indigenistas e quilombolas, e até impostas pelo próprio Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) com base nas mesmas regras atualmente vigentes para as novas hidrelétricas – que praticamente não existiam a tempo de suas construções – para a renovação das concessões ou sua relicitação. Nem tampouco o que o novo Código Florestal, em discussão no Congresso Nacional, está prevendo como exigências que poderão ser estendidas aos lagos das hidrelétricas existentes.
    Cerca de um ano atrás, ao tratar do tema, tivemos a oportunidade de lembrar que as concessões teriam de ser escrutinadas caso a caso, para definir os direitos das empresas concessionárias ainda remanescentes sobre cada concessão individualmente, considerando que, ao longo do prazo de concessão, dezenas de planos econômico-financeiros impactaram sobre os custos e regras de apropriação dos investimentos realizados na concessão foram impostas às empresas – inflação, correção monetária, Plano Collor, Plano Verão, Unidade Real de Valor (URV), mudança de moedas, etc. Além disso, existem demandas legais em muitas delas ainda sem terem tramitado em julgado.
    Prosseguindo na tese da renovação das concessões, caso o governo imponha um número inadequado para o valor das tarifas, poderemos ter a inanição das empresas, com a necessária demissão de empregados, a diminuição de investimentos em manutenção e a eliminação de investimentos em expansão – consequentemente, piora nos serviços ao consumidor, com certeza.
    A imposição de uma tarifa única, como acena o governo, não parece ser um caminho seguro, posto que cada usina tem características próprias e as despesas para sua operação e manutenção são diversas, ainda que prevaleça a tese de que estão totalmente amortizadas, o que não deve ser verdade, pelo ponto acima explicitado.
    Pela razão apontada em relação à aferição dos investimentos feitos em cada concessão, a reversão também implicaria ressarcimento das empresas dos valores ainda não amortizados, ou o aumento do prazo de concessão até sua plena amortização, sempre caso a caso.
    Supondo que a alternativa de tarifas impostas de forma “flat” seja trilhada, os governos estariam correndo o risco de ter de assegurar a continuidade das geradoras estatais que viessem a perder, em alguns casos, as suas usinas, porque não haveria nem a geração de energia nem caixa para suportar sua existência, o pagamento a fornecedores, os planos de saúde e previdenciários de milhares de funcionários e as dívidas legais em processos ainda na Justiça.
    Caso o governo viesse a deixar as suas empresas ao deus-dará, elas seriam verdadeiros elefantes brancos, com compromissos e sem dotações do Tesouro Nacional para honrá-los. Fato que não seria novidade no Brasil, pois temos o exemplo do que ocorreu no setor ferroviário quando da privati- zação das ferrovias. O problema e os seus efeitos destruíram famílias nesse caso.
    Abstendo-nos do problema das empresas e não querendo ser pessimistas, mas avaliando a imposição de uma tarifa muito baixa, poderemos ter um incremento da demanda por causa dos preços finais que venham a aumentar de maneira irracional o consumo, ampliando o desperdício.
    Com essa pressão descontrolada, podemos vir a repetir erros do passado em relação ao suprimento. O que é pior nessa visão é que, não sendo reestruturada a cadeia de tributos e encargos, a arrecadação do governo sobre a energia elétrica poderá até aumentar, e ao consumidor ficará a falsa impressão de que estaria havendo a tão alardeada modicidade tarifária.
    O fato é que o prazo para fazer um trabalho sério se esgotou. Não será surpresa que nos próximos dias comecem a haver manifestações dos funcionários das empresas atingidas pela espada da reversão em todo o País, na defesa de seus interesses. Esse grupamento, na verdade, se constitui em outro interessado em que haja uma decisão num curto espaço de tempo, porque muito teria a perder no caso da reversão.
    Provavelmente, uma medida provisória – a essa altura já redigida – será enviada ao Congresso Nacional para que seja aprovada a qualquer custo, sem a correta avaliação dos seus efeitos, considerando a ampla maioria e o desconhecimento do problema por aqueles que vão aprová-la.
    A alternativa de relicitação esbarra na realidade espelhada na decorrência de mais de três anos de discussões inócuas e na falta de vontade política para enfrentar o problema com competência. E, o que é pior, os fatos estão a desenhar um quadro em que a atitude de empurrar com a barriga durará até não haver prazo hábil para uma decisão consequente, e assim impõe-se um novo casuísmo.
    E falando em efeitos, se houver a renovação das concessões do setor elétrico, por qualquer que seja o prazo, todas as demais concessões dos diversos setores de infraestrutura existentes no País poderão – e deverão – ter o mesmo tratamento isonômico, de acordo com a jurisprudência e a nossa Constituição.

SÃO, RESPECTIVAMENTE, DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE) E ENGENHEIRO, CONSULTOR NA ÁREA DE ENERGIA E NEGÓCIOS, DIRETOR DA ABEL HOLTZ & ASSOCIADOS


Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 26 de Junho de 2011, B2.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Terra está cheia

Crise que mudará hábitos de consumo já está a caminho

Thomas L. Friedman (The New York Times - Colunista e Escritor)

    Você deve se perguntar se daqui a alguns anos nós olharemos para a primeira década do século 21 - quando preços dos alimentos dispararam, preços da energia subiram, a população mundial cresceu, tornados arrasaram cidades, inundações e secas estabeleceram recordes, populações foram desalojadas e governos ameaçados pela confluência de tudo isso – e nos perguntaremos: o que estávamos pensando?

    Como foi que não entramos em pânico quando havia evidências óbvias de ter cruzado algumas linhas vermelhas de crescimento/clima/recursos naturais/população todas de uma vez? “A única resposta pode se a negação”, argumenta Paul Gilding, veterano empresário ambientalista australiano que descreve este momento em um livro intitulado The Great Disruption: Why the Climate Crisis Will Bring On the End of Shopping and the Birth of a New World (A grande ruptura: por que a crise climática trará o fim da compulsão da compra e o nascimento de um novo mundo, em tradução livre).

    “Quando se está cercado por algo tão grande que requer que se mude tudo na maneira de pensar e ver o mundo, negar é a resposta natural. Mas quanto mais se espera, maior será a resposta requerida.” Gilding cita o trabalho da Global Footprint Network, uma aliança de cientistas que calcula quantos “planetas Terra” precisaremos para sustentar nossas taxas de crescimento correntes. O grupo mede quanta área de terra e água é necessária para produzir os recursos que consumimos e absorver nosso lixo, usando a tecnologia existente.

    Estamos crescendo a uma taxa que está usando os recursos da Terra bem mais rapidamente do que eles podem ser sustentadamente repostos, de modo que estamos comendo o futuro. Neste momento, o crescimento global está usando o equivalente a 1,5 Terra. “Ter apenas um planeta torna esse problema realmente significativo”, diz Gilding. Isso não é ficção científica.

    Quando estive no Iêmen, no ano passado, vi um caminhão-tanque entregando água na capital, Sanaa. Por quê? Porque Sanaa pode ser a primeira cidade grande do mundo a ficar sem água dentro de uma década. É isso que ocorre quando uma geração de um país vive a 150% de capacidade sustentável.

    “Se você cortar mais árvores do que planta, ficará sem árvores”, escreve Gilding. “Se colocar nitrogênio adicional num sistema de água, mudará o tipo e a quantidade de vida que a água pode suportar. Se engrossar o lençol de gás carbônico da Terra, a Terra ficará mais quente. Se fizer todas essas e outras ao mesmo tempo, mudará a maneira como o sistema todo do planeta Terra se comporta, com impactos sociais, econômicos e na sustentação da vida. Isso não é especulação, é ciência do colegial.”

    É também um assunto atual. “Nos milhares de anos de civilização da China, o conflito entre humanidade e natureza nunca foi tão grave como é hoje”, disse recentemente o ministro do Meio Ambiente da China, Zhou Shengxian. “A diminuição, deterioração e exaustão de recursos e o desequilíbrio do ambiente ecológico se tornaram gargalos e empecilhos graves ao desenvolvimento econômico e social da nação.” O que o ministro chinês está nos dizendo, diz Gilding, é que a Terra está cheia. Estamos usando agora tantos recursos e eliminando tanto lixo na Terra que atingimos uma espécie de limite.

    A economia vai ter de encolher em termos de impacto físico.” Não mudaremos sistemas, contudo, sem uma crise. Mas não se preocupem, estamos chegando lá. Estamos hoje apanhados em dois circuitos. Um é que aceleração do crescimento populacional e aumento do aquecimento global juntos provocam uma elevação dos preços dos alimentos. Uma elevação dos preços dos alimentos causa instabilidade política no Oriente Médio, que provoca uma alta nos preços do petróleo, que acarreta preços mais altos dos alimentos, que provocam mais instabilidade. Ao mesmo tempo, a produtividade aumentada significa que menos pessoas são necessárias em cada fábrica para produzir mais coisas. Sendo assim, se quisermos mais empregos, precisaremos de mais fábricas. Mais fábricas produzindo mais coisas causam mais aquecimento global. Aí os dois circuitos se encontram.

    Solução. Gilding é, ao final, um “eco-otimista”. Quando o impacto da Grande Ruptura iminente nos atingir, diz ele, “nossa resposta será proporcionalmente dramática, nos mobilizando como ocorre nas guerras. Mudaremos numa escala e velocidade que mal conseguimos imaginar hoje, reformando por completo nossa economia, incluindo nossos setores de energia e transporte, em poucas décadas”.

    Nós perceberemos, ele prevê, que o modelo de crescimento movido pelo consumo está quebrado e que temos de mudar para um modelo de crescimento mais movido pela felicidade, com pessoas trabalhando menos e ganhando menos. “Quantas pessoas”, pergunta Gilding, “deitadas em seus leitos de morte dizem ‘gostaria de ter trabalhado mais duro construindo mais valor para acionistas’ e quantas dizem ‘gostaria de ter jogando mais bola, lido mais livros para meus filhos, caminhado mais?’”

    Para isso, é preciso um modelo de crescimento baseado em oferecer mais tempo para as pessoas gozarem a vida, mas com menos coisas.” Parece utópico? Gilding insiste que é realista. “Estamos a caminho de uma escolha movida por crise”, diz ele. “Ou permitiremos que o colapso nos atinja ou desenvolveremos um novo modelo sustentável. Escolheremos a segunda. Podemos ser lentos, mas não somos estúpidos.” Tradução de Celso Paciornik

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 11 de Junho de 2011, A19.


COMENTÁRIO

    O tema acima é mais do que oportuno - nos mostra que qualquer das duas opções representará alteração fundamental em nossas vidas. E, dentre todas as profissões, engenheiros, arquitetos, agrônomos, tecnólogos e técnicos industriais são aqueles que mais terão que se adaptar: novos produtos para um novo mundo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Crise é oportunidade

Crise é oportunidade**


Jomázio Avelar*

A atual crise financeira originada no berço do sistema econômico mundial é mais um sintoma; outros até mais graves têm acontecido e estão acontecendo que não representam interesses grandes e imediatos e, por isso, sem tanta presença na mídia. A crise é efeito de uma causa que foi vendida com inteligência e implementada com eficiência nas últimas décadas, suportada pela revolução tecnológica da informação e da automação: a globalização.

A gestão da economia se alicerça em valores intangíveis, a ética e a moral, que decorrem do comportamento humano. A tecnologia é apenas veículo. A posição de liderança define responsabilidades, nem sempre assumidas por líderes políticos, empresariais, religiosos ou sociais. Neste sentido, os líderes são antes de tudo mestres; seus gestos ensinam o bem ou o mal, a realização ou a omissão. Os bons omissos cedem lugar aos ativos, muitas vezes inadequadas à posição. São as armas da ética e da moral que possibilitam liderar, com mais ou com menos eficácia e eficiência, acerto ou erro, um mundo tão populoso.

O poder exibido pelo atual estágio de progresso material inebria o imaginário de mentes açuladas pelo aparato publicitário, e esconde a falta de solidez e segurança dos fundamentos: a formação filosófica e espiritual. A crise financeira atual é resultado de más escolhas num sistema frágil, que requer zelo e vigilância permanentes pelos cidadãos, principalmente pelos líderes.

A cidadania tem se mostrado a fragilidade maior. A carência de formação filosófica e espiritual dos cidadãos é a causa da precária prática da cidadania. Sem cidadania governos não contam com apoio para governar, a começar por escolhas de maus governantes. Não são a pobreza e a ignorância as maiores contribuições à precária prática da cidadania, mas a omissão dos letrados que deveria estar em posição de liderança utilizando-a para conduzir e fundar suas decisões e condutas em bases éticas e morais aceitáveis. São regras válidas para todos, tendo o compromisso com o bem comum como cultura, pois a economia real é a que tem a ver com o cidadão comum, que depende de seu trabalho, da produção e do emprego.

Maior cuidado deve ser observado com decisões que propagam seus efeitos por décadas, ou mesmo séculos, característica das decisões de organizações grandes como governos e corporações empresariais, entidades de classe, sindicatos. São os casos de admissões de funcionários públicos, endividamento público, estatização indevida, legislação trabalhista, e outros. Certamente a mais importante das definições de estruturas decisórias é a não concentração de poder de qualquer natureza, o pluralismo, a sólida concepção de justiça e a orientação para o bem comum.

Lidera no cenário da crise o ator mais prestigiado da atualidade: mercado. O mercado constitui um problema peculiar, distinto dos conhecidos na ciência política. Ele não tem agências executivas ou legislativas capazes de recepcionar reivindicação ou lobby e menos ainda tribunais de justiça para apelação. Assim, ao contrário do soberano político, sensível à autopromoção, ao apresentar sentença de exclusão ou condenação social ou profissional, como perdas financeiras, o mercado não permite apelação. É impossível apelação contra perdas na Bolsa de Valores. As sentenças do mercado em geral, não só no financeiro, são tão rígidas e irrevogáveis quanto informais, tácitas e raras vezes declaradas em público. No Estado soberano cabe objeção e protesto, com chance, embora limitada, de anulação ou modificação parcial. No mercado não há juiz para julgar, nem sequer uma recepcionista para receber a petição.Cada vez mais o mercado se torna forte, ousado e obstinado, pela maneira como as decisões são tomadas e legitimadas.

A globalização que empolga os grandes grupos econômicos, as mega empresas, as empresas globais cada vez maiores, em detrimento das de porte médio e pequeno inviabilizadas e da competição profundamente inibida, e do cidadão comum e profissional, segue no sentido de minar a soberania do Estado, enfraquecendo-o e passando muitas de suas funções e prerrogativas aos poderes impessoais do mercado, levando o Estado à rendição cada vez mais abrangente às forças do mercado, sem atender às políticas preferidas e endossadas pelo eleitorado e tomando dos cidadãos o status de detentor de poder e árbitro final das propriedades políticas que a cidadania lhe asseguraria. O objetivo parece ser o Estado cada vez mais despido do poder de estabelecer as regras e apitar o jogo, retraindo-se à contemplação e aceitação de novo papel, de executor da soberania do mercado, em que se inclui seus braços jurídico e legislativo. As decisões são tomadas por cada vez menos pessoas e, o mais grave, decisões mais impessoais. Cada vez menos se identifica a autoria das decisões. Um poder invisível, intangível, inaudível, insípido. Não se trata de promover estatização, mas reduzir o custo do Estado para fortalecê-lo (agora liberado de dívidas e encargos de juros que o submete ao mercado) e colocá-lo na posição de árbitro, para ditar as regra e apitar o jogo, na relação entre o sistema produtivo poderoso (econômico) e o social, onde se situam os cidadãos pequenos empreendedores e profissionais, na condição de elo mais fraco, que tem de ser amparado para ter oportunidade de progredir, sob normas legais e legítimas válidas para todos os cidadãos, origem e fim de tudo. Há na sociedade um evidente descolamento entre a capacidade profissional geradora e detentora de conhecimentos e tecnologias, e a potência comercial das corporações empresariais viáveis na globalização (empresas globais).

Grandes guerras, crises mundiais como a atual, são conseqüência de decisões de conteúdo moral e ético precário, tomadas por grandes organizações, do Estado ou do mercado, por poucas pessoas, em desleixo ao principio de assegurar a qualidade decisória – cidadania - para decisões acertadas. Essa concentração de poder, político e/ou econômico, opera a serviço do aumento da pobreza, da injustiça, da ignorância de milhões de seres humanos.

O Estado federal, ou federalismo, descentralizado fundado em preceitos democráticos oferece melhores possibilidades de sucesso para o atingimento dos objetivos da sociedade de ter progresso material embasado em conteúdo filosófico, onde os direitos e deveres fundamentam o balanço da conduta dos cidadãos. Países têm que ter a estrutura de Estado para a formação filosófica e espiritual que possibilite o exercício da cidadania com entes federativos adequadamente contemplados com incumbências e responsabilidades de sorte a assegurar que os poderes decisórios estejam mais próximos do cidadão conforme seus interesses e suas possibilidades de ação, contribuindo assim para decisões mais acertadas, e articulando resistência à invasão pelo mercado restabelecendo assim os poderes do Estado, o qual tem endereço fixo e possibilidades de apelação. Ruim com Estado pior sem ele. E assim o cidadão conquistará que governos passem a governar para a sociedade e não só para o mercado.

É imperioso e oportuno atentar para a questão da dívida pública, que ocorre em quase todos os países e, de forma acentuada, no Brasil onde o precário equilíbrio das contas públicas ainda está baseado integralmente no aumento da carga tributária e na emissão de títulos públicos. A dívida condiciona tudo, não só os juros e os investimentos públicos, e deixa o Estado presa do mercado. Não é verdade a alegação de que para o Brasil “sua importância é secundária, visto que, de qualquer forma, ela nunca será paga”. Tal atitude seria imoral por si mesma, o tomar emprestado para não pagar. Esta posição não pode ser assumida por líderes (o que estariam ensinando aos liderados e às gerações futuras?). Ela será paga, caso contrário o mercado não compraria os títulos públicos. O que é pior, é que a dívida drena anualmente em juros recursos atualmente da ordem de cento e sessenta bilhões de reais que poderiam estar aplicados no desenvolvimento do País (assim como em outros países), como na infraestrutura, na educação, na saúde e outras áreas, em síntese, no interesse da sociedade.

O fortalecimento do Estado implica sustar a política de os governos operarem em regime de não equilíbrio orçamentário, com déficit orçamentário causado por demesurada despesa corrente. O setor público deve seguir mesmas regras que as empresas privadas e as famílias, e reservar a emissão de títulos públicos para a implantação de empreendimentos de retorno financeiro assegurado - só assim tem sentido a dívida pública.

O desequilíbrio orçamentário, despesa maior que receita, obriga os governos desprovidos de líderes capazes de medidas eficazes ao comodista expediente de emitir títulos públicos para assim equilibrar as contas nacionais. É fácil compreender que cada parcela anual da dívida pública interna tem o caráter de tributação, pois tais recursos provêm da sociedade. Assim, à elevada carga tributária brasileira acresce-se mais metade da mesma, como evidenciam as leis orçamentárias anuais. Essa herança será deixada para gerações futuras e assim viverão num mundo mais duro no plano econômico e mais conflituoso no social, com nítidas especificações de retrocesso e regressão, numa definição inequívoca de afastamento da orientação para o bem comum. A manutenção dessa situação é atribuível aos políticos, porém a responsabilidade de mudá-la é de todos os líderes, incluídos os empresariais, os religiosos, os sociais, os acadêmicos, os sindicalistas.

O que informa a mídia parece ser um equívoco dos lideres dos países, que poderá custar caro á humanidade: tentar resolver a crise só com dinheiro público despejado no mercado (monstro insaciável que produziu a crise); tal recurso financeiro virá do contribuinte que será ainda mais sobrecarregado – sem atacar a causa que é o Estado estar enfraquecido, o mercado favorecido e o cidadão (também as pequenas e médias empresas e os profissionais) abandonado à própria sorte.

A solução da crise deve contar com suporte financeiro para dinamizar a economia real combinado com reformas que dêem orientação mundial para o bem comum, sob a responsabilidade de todos os líderes, cuja nova ordem é a redução do endividamento público de todos os países por meio da redução de custo do Estado e assim dotar o mesmo e o mercado de maior capacidade de investimento, limitar a emissão de títulos públicos a empreendimentos de retorno assegurado, visando o pleno emprego e a iniciativa empresarial para a economia reencontrar o dinamismo perdido, com base em méritos que decorram de valores éticos e morais aplicados a tudo e a toda humanidade. Isto sim, será capaz de reconstruir a confiança, fazer com que a esperança decorra da ação e não o contrário, para descortinar perspectiva otimista de sentido para a vida, a ser amplamente disseminada aos bilhões de seres humanos. É o caminho mais curto e eficaz para a crise passar. A crise é oportunidade de nova ordem mais virtuosa e humanista: nova globalização.

Pelo caminho da cidadania, que é o maior controle e a maior vigilância contra a concentração de poder do Estado e do mercado, buscar a visibilidade dos autores nas decisões do mercado, restaurar o poder político do cidadão para pôr limites ao Estado e ao mercado, com critérios de punições por más decisões com sólidos fundamentos filosóficos e preceitos democráticos estatuídos a partir de conhecimentos humanos acumulados orientados para o bem comum. As decisões estarão mais próximas do cidadão e voltadas para o seu interesse, para dar sentido à vida das pessoas e melhoria nas relações humanas.

* Engenheiro Civil –Poli / USP – 1965, é Presidente do Conselho Brasil - Nação.
É Presidente da Evaldo Paes Barreto Ltda. desde agosto/1974, Empresa de Engenharia Consultiva e Montagem Hospitalar – Fundada em 1947. É Presidente da Engecred – Cooperativa de Crédito dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de São Paulo. Foi Diretor da Construtora Heleno e Fonseca S/A até junho 1974. Foi membro do Conselho Deliberativo do Instituto de Engenharia de São Paulo biênio 1973/1974.


**Artigo Publicado na Revista BEM COMUM -  Uma publicação da Fides - Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social: nº 91, Ano XIII (2008).



terça-feira, 24 de maio de 2011

O emprego do tempo

Autor: Sêneca
Livro: As relações humanas: as amizades, os livros, a filosofia, o sábio e a atitude perante a morte.



Carta I

O emprego do tempo

Sim, meu caro Lucílio, reivindica a propriedade da tua pessoa; recolhe e põe em segurança o tempo que até agora te foi subtraído, roubado, ou que tu deixavas escapar. Acredita-me, as coisas se passam exatamente como estou dizendo: alguns momentos nos são arrancados, outros escamoteados, outros mais nos escorrem pelos dedos. Todavia, a perda mais escandalosa é a que sofremos devido à nossa negligência. Se prestares bastante atenção, verás que passamos a maior parte da vida fazendo as coisas mal, uma boa parte sem fazer nada, e toda a nossa vida fazendo algo distinto do necessário. Cita-me um homem que saiba dar ao tempo o seu prêmio, reconhecer o valor de um dia, compreender que morre a cada dia. Nós nos enganamos quando pensamos ver a morte diante de nós: ela já está em grande parte atrás de nós. Tudo o que pertence ao passado é do âmbito da morte. Portanto, meu caro Lucílio, age como dizes na tua carta: se o proprietário de todas as tuas horas. Serás menos escravo do amanhã, se te tornares dono do presente. Enquanto a remetemos para mais tarde, a vida passa. Nada, Lucílio, nos pertence; só o tempo é nosso. É o único bem, fugitivo e submetido ao acaso, que a natureza nos deu: no entanto, qualquer pessoa pode privar-nos dele.

Vê como os homens são tolos: aceitam que lhes sejam contados como grandes serviços os favores mais ínfimos, mais miseráveis e que não tem nada de insubstituível; mas ninguém se julga devedor do que quer que seja se lhe é dado tempo, ao passo que este é o único favor que não se pode dar mesmo com o reconhecimento.

Talvez me perguntes o que faço, eu que te dou conselhos. Eu te responderei francamente: não posso assegurar que não perco nada, mas posso dizer o que perco, como e por quê. Posso aperceber-me da minha pobreza. Mas a maior parte dos que passam necessidades sem serem responsáveis por isso são desculpados, mas nunca auxiliados. Como concluir? Ao meu ver, o homem que se satisfaz com o pouco que lhe resta não é pobre; mas quanto a ti, prefiro que conserves o que possuis: começarás a servir-te disso em tempo útil. Lembra-te deste ditado dos nossos ancestrais: “Já é tarde demais para fazer economias quando se chega ao fundo do tonel: não sobra muita coisa e o que sobre é o menos bom.” Adeus. 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tecnologia, investimento indispensável, por Jomázio Avelar


A engenharia, a arquitetura e a agronomia são atividades complexas, cujos profissionais, uma vez concluída a graduação, deveriam praticar, para atingir a excelência, um mínimo de 10 000 horas de treinamento ativo e contínuo em empresas ou instituições correlatas para atingir determinado padrão tecnológico de excelência. O cérebro precisa desse tempo para assimilar tudo o que é necessário – aliás, assim como no caso do compositor, esportista, escritor, pianista, médico, advogado e outros. Dez mil horas equivalem a cerca de 20 horas por semana durante dez anos.
Eles são os profissionais que se ocupam da concepção de soluções, elaboração dos projetos correspondentes, implantação de empreendimentos em todos os setores do sistema produtivo. A sólida formação teórica dada pelas boas universidades já é um curso pesado para eles, enquanto ainda estudantes, para as famílias que os sustentam até a diplomação, para a sociedade. E, no entanto, é surpreendente constatar que o exercício profissional deles, no geral, tem vida curta – dez a 15 anos – para os que não se preparam para a excelência.
Trata-se do mesmo tempo de treinamento dos que a atingem, pois aqueles têm de sujeitar-se às oportunidades e vicissitudes de mercado, faltando-lhes apoio para investir na sua profissão. Após o esforço e os investimentos para formação, os profissionais ficam sem o amparo mínimo necessário. 
A consequência é serem obrigados a aceitar outra ocupação como saída para se manterem. Nessa situação, têm perdido os profissionais, as empresas, a sociedade – tudo convergindo para o baixo retorno do investimento realizado na formação deles, razão de tornar essas profissões menos atraentes ultimamente. É desperdício inaceitável num país ainda pobre como o Brasil.
O recém-diplomado não alcançará o nível de excelência por conta própria, sem apoio e incentivo da família ou de alguma instituição. Tem de dispor de ajuda porque, se houver descontinuidade, não cumprirá o necessário treinamento. Após dez anos, na plenitude da competência adquirida e da experiência acumulada, as carreiras poderão se alongar por mais até 40 anos, fase profissional em que têm conhecimento e maturidade indispensáveis para elevados desempenhos de competência e excelência.
Assim, os atuais 950 000 profissionais do sistema Confea/Crea’s, em seu conjunto, se tivessem tido competente preparação para aproveitar as oportunidades, atenderiam ao padrão de desempenho requerido pelo país, ao contrário da atual escassez, lucidamente evidenciada nos artigos do professor José Pastore, da FEA/USP, e do professor Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP (O Estado de S. Paulo – 20/07/2010), e também do Dr. Rui Altenfelder (Folha de S. Paulo – 01/08/2010). Na realidade, o cenário é, portanto, de escassez de excelência, porém com abundância de apenas diplomados.
As empresas, as entidades de classe e instituições como o Instituto de Engenharia, o sistema Confea/Crea’s, o Sindicato dos Engenheiros, a Mútua, a EngeCredSP e as diversas Associações de profissionais, podem contribuir para a solução de evitar que os profissionais tenham que abandonar seu mercado de trabalho. Uma vez que, com instabilidade de atividades (“voo de galinha”), essas instituições pouco podem fazer, elas devem objetivar manter nível mínimo de investimentos no setor, por meio de suas influências políticas junto aos centros decisórios.
Seria a reversão do que se constata, nos últimos 25 anos, com investimentos públicos federais orçamentários inexpressivos de 15 bilhões de reais por ano, para todo o país.
Os profissionais também podem fazer sua parte: juntamente com as empresas e demais instituições, associar-se às cooperativas de crédito, já em operação em Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Tocantins, Goiás e São Paulo e as que poderão ser fundadas ainda, para disponibilizar, com capilaridade, apoio financeiro para os profissionais realizarem investimento na própria carreira, e assim estarem preparados para as oportunidades, como quadros técnicos longevos, com experiência e maturidade, e tecnologicamente habilitados. O padrão tecnológico de um país é expresso pela competência e excelência de seus profissionais.
Assim, com orientação adequada de carreira e financiamento para educação continuada, as empresas e os profissionais, legítimos parceiros, assumiriam a autoria dos investimentos indispensáveis para a geração do padrão tecnológico necessário para assegurar elevada produtividade e competitividade brasileiras em face das demais nações, vista a importância da engenharia, arquitetura e agronomia na composição do crescimento do PIB, fortalecimento da economia, na qualidade de vida e do bem-estar geral da população – em síntese, do progresso. (Fonte: www.brasilengenharia.com.br)

* Jomázio Avelar é engenheiro civil, presidente da EngeCredSP, e presidente da Evaldo Paes Barreto Engenharia Ltda. E-mail: jomazio.avelar@engecredsp.com.br

terça-feira, 10 de maio de 2011

Soluções inteligentes e duradouras amparadas nos valores de nossas crenças


“Derrotar um inimigo que ameaça nossa visão de mundo, os próprios valores que acreditamos serem capazes de nos proteger, é a maneira mais rápida de acalmar a ansiedade existencial”, citação do psicólogo social Tom Pyszcynski da Universidade do Colorado/EUA.

Parece uma orientação sábia e aplicável a situações de escolhas. As atividades humanas impõem mudanças permanentes tais que a certeza é a incerteza. Decisões que afetam destino de pessoas seja no estabelecimento de missões de instituições, seja nos processos procedimentais, ou mesmo na avaliação de resultados, aplicáveis a bens ou serviços, ou a conhecimentos, implicam estar ancoradas em valores e visão de mundo de cada um dos competidores envolvidos nas escolhas.
Na época atual as realizações precisam estar fundamentadas em projetos auto-sustentáveis; não há espaço para a improvisação, sob pena de comprometer a eficácia do objetivo e a eficiência dos procedimentos.
Nenhum projeto se revela sustentável sem base em pesquisa qualificada que é, na essência, a transformação de dinheiro em conhecimento, e na sequência, a inovação que transforma conhecimento em dinheiro, bem citado pelo ex-vice presidente da 3M, Geoft Nicholson.
Inúmeros problemas podem ser elencados como pendentes de solução. Por exemplo, o tempo de produção de empreendimentos imobiliários na cidade de Sao Paulo chama a atenção e situa-se no âmbito das atividades da Arquitetura e Engenharia a requerer nossa atuação e empenho.
Estudo recente trazido à luz por divulgação da imprensa nos mostra que desde a decisão pela compra do terreno para empreender a implantação de um edifício habitacional até a entrega das chaves, decorrem 83 meses, ou 6 anos e 11 meses.
É efetivamente inaceitável diante de tanta velocidade dos instrumentos de processamento de informações e rotinas, denominados de informatização e automação, causando elevação de custo para compradores dos bens e afetando resultados operacionais das empresas, ambos estes fundamentais no interesse do País.
É um problema que a Arquitetura e a Engenharia tem de resolver pela transformação dos procedimentos e é inadiável visto o prejuízo que causa.
Problemas semelhantes na área da Engenharia Industrial e da Agronomia, bem como na dos Serviços e Comércio, existem e são de nossa responsabilidade dada nossa visão de mundo; dar soluções inteligentes e duradouras amparadas nos valores de nossas crenças.
Os arquitetos e engenheiros, incluindo os agrônomos, em resposta à formação superior que receberam, muitos nas instituições públicas, forçosamente adquiriram visão que os responsabiliza com conduta de cidadão do mundo, quando não de cidadania profissional.
Nessa conduta ele se dá o dever de servir a sociedade no mister de seu saber para geração de produtos de sua especialidade profissional. Por mais desenvolvidas que sejam as corporações empresariais sempre a atividade profissional representa o papel do Artífice, da perícia no fazer com responsabilidade de cidadão profissional.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mercado para engenheiros, arquitetos e agrônomos


A palavra mercado é usada à exaustão na economia pelos analistas, empresários, profissionais, não só para referir-se a produtos e serviços, mas também para ocupação (emprego).
Os profissionais de nível superior tão logo se formam procuram um emprego, objetivando obviamente ocupação.
Ocupação depende de investimento de infra-estrutura: todas atividades dependem de boa infra-estrutura para redução do custo e aumento da velocidade dos deslocamentos de produtos e pessoas.
A economia brasileira (custo-Brasil) peca, por exemplo, por basear os deslocamentos nos veículos rodoviários e aeroviários (energia petrolífera). Na prática não utilizamos deslocamentos por ferrovias e hidrovias ou cabotagem.
O poderio das nações é mais dependente da qualidade da população (educação, saúde, esportes, cultura e lazer) e de investimentos tecnológicos.
Investimentos nos setores que fortalecem o poderio do Brasil produz efeitos de longo prazo (25 anos), porém duradouros e com reflexos diretos na produtividade das pessoas e por conseqüência na produtividade e competitividade geral da economia brasileira.
A "dimensão de mercado-poder de compra" é questão de produtividade e não de massificacão de produtos (tem efeito efêmero).
O mercado para engenheiros, arquitetos e agrônomos é formado por esses ingredientes que devem ser objetivo permanente pelos próprios profissionais na eleição de seus líderes, seja em eleições gerais do País, ou mesmo nas eleições para entidades de classe, entidades de regulamentação (como CREA/SP), nas associações e entidades de profissionais.
Fora do comprometimento com tais responsabilidades pelos profissionais é abandonar-se individual e isoladamente à própria sorte, pois "uma andorinha só não faz verão" e a '"política é uma obra de arte coletiva".