No Rio, vice diz que situação econômica de países ricos é preocupante,mas Brasil pode comemorar; em São Paulo, Lula cobra medidas de Obama
Alfredo Junqueira / RIO
Fernando Gallo / SÃO PAULO
O vice-presidente da República, Michel Temer, disse ontem no Rio que, enquanto os Estados Unidos e países europeus enfrentam sérios desafios na economia, nessa área “o Brasil ainda pode comemorar”. “Temos notícias do que acontece hoje na Europa e até, de maneira preocupante, nos Estados Unidos. Mas nós aqui estamos incólumes”, comparou Temer,ao chegar à Associação Comercial do Rio de Janeiro, que comemorava seus 202 anos de vida.
“Fala-se tanto da inflação e nós sabemos que isso gera expectativa. O governo está sabendo controlar essa expectativa”, prosseguiu Temer, acrescentando que a inflação “está absolutamente sob controle, o País vai bem econômica e institucionalmente.”
Temer destacou ainda o plano de combate à miséria e as ações de segurança na fronteira como os principais avanços dos seis primeiros meses do governo Dilma. Na solenidade, ele recebeu as medalhas Pedro Ernesto e Tiradentes, da Câmara Municipal e da Assembleia do Rio.
A comparação entre a economia brasileira e o Primeiro Mundo foi abordada também, em São Paulo, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele chegou a criticar diretamente, pela situação, o presidente americano Barack Obama.
Convidado ilustre de um congresso da União Geral dos Trabalhadores (UGT), no Anhembi, Lula disparou críticas contra EUA e Europa: “Nós estamos vendo Espanha, Portugal e Grécia numa situação delicada. Tudo isso por conta de uma crise que não foi causada pelos pobres”, comentou o ex-presidente. “E a gente não pode aceitar que os americanos façam ajuste na sua política fiscal às custas da desvalorização do dólar, que cria um prejuízo ao comércio dos países mais pobres do mundo”.
Marolinha. “Enquanto o Obama já está há mais de dois anos sem resolver a crise americana, enquanto a Europa já está há mais de dois anos sem resolver a crise na Europa (sic), aqui no Brasil nós avisamos que a crise ia ser uma marolinha, que ia chegar por último e ia embora primeiro e foi exatamente o que aconteceu”,disse Lula à plateia de sindicalistas.
Depois de comparar a rapidez com que o governo brasileiro debelou os efeitos da crise com as dificuldades até hoje enfrentadas pelos países ricos, o ex-presidente concluiu: “Aqui demoramos sete dias para resolver o problema do financiamento de carro. O Obama demorou sete meses nos Estados Unidos.”
Segundo o ex-presidente, a nova política industrial que a presidente Dilma Rousseff vai lançar em breve tem como objetivo minimizar os efeitos do real valorizado e tornar as empresas brasileiras capazes de competir com as chinesas. “Tem muita gente que se queixa de que tem muito produto chinês entrando noBrasil. É preciso que a gente tome as medidas que tiver que tomar.”
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 16 de Julho de 2011, A6.
Comentário:
A afirmação dos políticos no texto acima pode levar à interpretação de tratar-se de comportamento “me engana que eu gosto”. A situação do Brasil não é tão boa quanto apregoam: o Governo Federal pagou R$ 220 bilhões em juros da dívida pública interna em 2010. Enquanto isso não tem recursos para investir na infraestrutura material, o que afeta diretamente a competitividade dos produtos e a produtividade da economia brasileiras. Sendo os engenheiros os maiores prejudicados, dado tratar-se de seu mercado de trabalho, surpreende que as instituições que compõem o setor da Engenharia mantenham-se inertes e contemplativas. A união de todas as instituições – CREA-SP, entidades da Engenharia e sindicatos patronais principalmente – é inadiável para atuar visando o interesse nacional no Brasil.
O “custo-Brasil” continua o mesmo, os impostos (carga tributária de 40%), o câmbio, a abundância de crédito, os oligopólios, a concentração empresarial com redução da concorrência e o otimismo dos consumidores que estão produzindo o País mais caro, cada vez mais, mostram que o Brasil não está tão bem administrado como possa parecer.
Cidadãos, dentre eles os engenheiros, estejam atentos, a conta sempre vem para o contribuinte pagar.
Não se trata de fazer oposição ao Governo, que não é o propósito, mas de atuar no interesse do Brasil, fazendo a parte que cabe aos engenheiros. Afinal, a opção foi uma República Democrática.